Conhecimento é poder.

Conhecimento é poder.
Por que o ler faz bem ao que há dentro de nós.

sábado, 27 de junho de 2015

Sobre as fotos coloridas

Em menos de 24 horas, vi o mundo virar um arco-íris, quase que por completo. Mas também vi o outro lado, amigos e desconhecidos deixando claro que não trocariam suas fotos por uma razão ou por outra: violência no Mundo Moderno, crise financeira, violência no Brasil, no Rio de Janeiro, com os lêmures de Madagascar, etc; houveram amigos que fizeram piadas que provavelmente só foram engraçadas para eles mesmos (ao menos eu não ri!), pois até cheguei a lamentar a falta de conhecimento de alguns. Em uma observação mais aprofundada, devo dizer que boa parte dos posts de repúdio e opiniões "engraçadas" e afins foram notados em perfis de pessoas que mal concluíram o Ensino Médio, e acho que isso também simboliza alguma coisa, algo voltado à limitação de no máximo assistir canais como Rede Globo e Rede Record; provavelmente só compartilharam os posts do Boechat há duas semanas atrás porque foi algo viral - talvez nem soubesse o que estavam fazendo. Como foi o caso do mundo colorido de ontem para hoje.

Mas o que vem a mente? O que simboliza as pessoas mudarem suas fotos e colocarem-nas coloridas? Modinha? Que bom! Que torne-se o amor uma moda que dure, que as tendências prevaleçam ao longo dos tempos.
Falta do que fazer? Que ótimo! Ao menos a falta do que fazer nos fez fazer algo mais útil do que espalhar fotos e vídeos de um artista morto sem sequer respeitar o luto de sua família.
Cheguei a ver inclusive fotos de crianças africanas, morrendo de fome com o seguinte texto: o dia que forem fazer algo que realmente mude o mundo, me chame. Bem, acho que o ocorrido de ontem já é um ato que muda o mundo, não a sua geografia, a forma da Terra, mas a forma de conceituá-la, de ver e rever o próximo.

Preciso citar meu amado Renato Russo, em sua música 'Geração Coca-cola':
"Quando nascemos fomos programados a receber o que vocês nos empurraram com os enlatados de USA..."

Agora todos querem reclamar daquilo que receberam sem querer? Só serviu a conveniência? Isso também é modinha! Democracia já!

O fato é que a Geração coca-cola, essa geração esta lidando com um fato histórico, sim, e que recebemos mais uma vez como um enlatado de USA.

Parece que o que falta é de fato conhecimento sobre o tema. Já ouvi e li de tudo em menos de 24 horas em função de uma mudança de foto que viralizou e que, sim, mudou  muita coisa em mesmo tempo e vai mudar ainda mais em bem pouco. Todos verão!

O Brasil já tinha o casamento entre iguais desde 2013, isso já é sabido, mas ninguém deu importância.
Um dos grandes problemas é que todos parecem estar tratando o tema à luz de uma situação somente "agressiva" à "sociedade moderna" (dá um peso no coração que chega a doer dizer moderna de uma sociedade tão demodê!).

O discurso está fadado à mesmice: beijo gay na TV, educação gay na escola - este discurso é dos piores: tratam os gays como religiosos, acham que vão tentar "catequisar" as crianças à homossexualidade. Por favor, saiam da frente da TV, leiam algo, isto é um apelo urgente!

O tema do casamento entre iguais envolve segurança, estabilidade, direitos e é claro, o amor, este em primeiro lugar, acima de tudo, mas não necessariamente precisa ser o primeiro da lista. Está em primeiro lugar porque é o princípio de tudo.

E segue o discurso da Nave Apolo: um pequeno passo para o homem e um grande passo para a humanidade.

O presidente da maior potência do mundo, um negro de origem queniana que declara uma só coisa ao fim de um discurso de quase nove minutos: "Todos deveriam estar orgulhos disso".

#lovewins




quinta-feira, 18 de junho de 2015

O mar e eu

A saudade é o que faz com que o tempo pare.
Ter saudades é um tipo de nostalgia. Quando perdemos algo, seja o que for: uma foto, um objeto que gostamos, um bem valioso, uma pessoa amada, a liberdade, somos movidos pelo desejo de ter o tempo parado vendo apenas aquele momento a nossa frente, esperando que ele nunca acabe.
O mundo às vezes tem uma tendência à crueldade: parece se divertir enquanto sofremos, enquanto desejamos ter em nossos braços aquilo que ele mesmo nos levou.
Lembrar é para os velhos! Corremos atrás de nossas memórias durante a juventude sem nos darmos conta de que teremos algum momento a frente para nos lembrar (punir, vangloriar, rir e chorar) de tudo. No entanto, parecemos querer sofrer agora. Somos masoquistas de nossas mentes.
Existe uma memória que ainda jaz viva em mim. Mistura pânico, amor, pavor, ódio, alívio. Todos os sentimentos juntos num só ser que era eu. Era difícil acreditar que tanto pudesse caber em mim. Após estar privado de mim, ter sido tirado de mim, de dentro de mim saiu o mundo, saiu no grito. O momento é fácil de ser descrito: meus pés nus tocavam a areia molhada e as ondas do mar gélidas pelo abril despedaçado que se desembocava no mundo frio, cobriam meu pés; o mundo molhava-se em si e desaguava em mim. Um grito simplesmente saiu, antes mesmo que eu pudesse me dar conta da capacidade de contê-lo. Com a força que tomava, parecia que o mar abriria, seria possível ver o que havia do lado de lá, o que acontecia com aquele imensa linha que corta o horizonte, guarda o sol, expõe a lua e nos confunde.
A saudade é o que faz com que o tempo pare.
Chorei de dentro pra fora. Minhas lágrimas tinham o mesmo gosto das águas do mar, no entanto mesmo o mar foi capaz de sentir o sabor das minhas lágrimas e diferenciá-las do sabor das águas que haviam em si.
Chorei de fora pra dentro. Cai com os joelhos em terra e bebi da água do mar. Apenas diferenciei o sabor das águas comparando-as com o sabor do mar.
O oceano nos atrai e nos trai.

domingo, 14 de junho de 2015

Sobre os laços que nos afetam


É um jogo muito simples esse tal jogo da vida, no qual nada deixar de ser apenas uma curta viagem de volta para casa: passa tão rápido quanto a nossa chegada ao lar das eternidades, dos mistérios que nos rodeiam e das crenças de que encontraremos as respostas de todas as perguntas.

No entanto, o que conta é o período em que ainda vagamos neste assustador-simplório limbo da liberdade; o que conquistamos, quem conquistamos e os laços que nos afetam.

Em uma conversa em uma mesa - que não era de bar - deparei-me com as lágrimas fáceis e sinceras de um amigo. Tinha de escrever sobre isso!

Falávamos sobre bondade, crueldade, interesses humanos, hipocrisia, vida e morte. Os principais ingredientes que compõem o ser humano na sua inexorável tentativa de ser humano. Nosso medo de partir e a certeza de que encontraremos tempo para tudo nos faz acreditar que nada nos fará mal, seremos imbatíveis a qualquer força. Contudo, há duas circunstâncias nesta vida da qual nos deve lembrar o quão frágeis somos: a primeira está na Bíblia, no livro da sabedoria, o livro de Eclesiastes, que já começa esclarecendo: Há um tempo exato para todas as coisas nesta Terra. E nesta exatidão do tempo, ampulheta que os físicos não podem controlar, está a segunda circunstância, aquela a qual mesmo os deuses gregos com todo seu poder temiam e nunca lutavam contra, fosse para salvar quem fosse. Mesmo Zeus temia a Moîra (o deus da Morte), que no momento em que Crisis clamou a ajuda de Apolo, que vinha em seu socorro em uma das batalhas de Tróia, viu-se completamente sozinho: Moîra vinha ao seu encontro, Apolo então recuou. Morreremos. Não escaparemos disto nunca, jamais. Mas ainda assim parece que alguns de nós passaremos a vida com a certeza de que antes de chegar a morte, teremos tempo de resolver as coisas da vida. Não teremos.

Em nossa conversa sobre a mesa, tateei uma das minhas pérolas (nem sei se era minha, mas era oportuna ao momento): pessoas como nós, escolhemos a vida que queremos ter, seremos brilhantes, iremos longe, voaremos tão alto que não saberemos aonde vamos chegar. O impulso que a vida nos dá faz com que tudo corra a uma velocidade tão forte que não sabemos aonde iremos, mas confiamos no nosso potencial, é ele quem dirige o carro. Não driblaremos a morte, mas faremos com que em sua chegada, não tenhamos medo: seremos tomados por ela em seus braços como velhos amigos que se encontram depois de muito tempo. E existem as pessoas que a vida escolheu. São as pessoas que não disporão de muitas oportunidades e que não se darão conta do poder e do potencial que têm. Não que elas não tenham chance de fazê-lo, mas estão acomodadas demais para tal. Será mais fácil viver e deixar a vida passar. Enganar e se achar por cima de tudo. É uma tristeza!

Mas os laços que nos afetam faz com que ainda possamos sentir pessoas que amamos. Sentimos a tal ponto de parecer saber chegar o momento exato de sua partida. Apenas por um telefonema ou por uma visita inesperada, sabemos o que aconteceu.

O que forma uma vizinhança, um bairro, uma pequena cidade, uma sociedade, o mundo? O amor, você diria. Sim, o amor forma muitas coisas com a mesma força que destrói. Se notarmos bem, somos sempre responsáveis por destruir aquilo que amamos. Temos esse dom de fazer com que algo tão puro consiga ultrapassar até mesmo o poder o ódio, que é tão forte e parece feito para destruir, apesar de ser o ódio um fruto do próprio amor. Até mesmo o amor precisa de uma medida certa. O amor na medida certa é incondicional, de fato. Não sabemos por onde ele começa ou onde ele irá terminar. Não somos conhecedores das Leis da atração. Tentamos desvendar isso, mas não há quem possa: independentemente daquilo que cada um acredita ou não, há forças neste universo que vão além de nosso conhecimento e, parafraseando mais uma vez a sabedoria bíblica do livro de Eclesiastes, "isto é somente vaidade e um eterno correr atrás do vento".

O que importa no amor é o tempo que ele ultrapassa, transpassa, na verdade. Transpassa os séculos daquilo que é verdadeiro, passa além dos quatro nomes do amor no conceito grego: ágape (ἀγαπή), o amor tido como incondicional; (eros) ἓρος, o amor dos amantes; filia (φιλία), o amor fraterno; 'estornigué' (στορνγή), o amor que espera algo em troca, que sofre. O amor do qual falo se passa por alianças, um casal que se ama e acredita no amor de tal maneira que de poucas maneiras consegue ver este amor refletido em um espelho ou em outro alguém. Mas há quem acredite no amor a tal ponto de senti-lo refletido em outras almas que se encontram. Acreditam no amor de tal forma que visam eternizá-lo, levá-lo ao mundo a frente como prova daquilo que é real, verdadeiro, único, como uma obra de arte que só foi feita uma vez e não haverá quem a faça novamente ou faça melhor. Não se pode conquistar o mesmo espaço. O amor é como tal. Não se pode conquistar duas vezes. Vive-se uma só vez e nesta uma só vez, estabelecemos os laços que nos afetam, nos unem e nos levam a uma mesa em uma festa a derramar rios de lágrimas que não são em vão.

Este tipo de amor, não nos permite enganar a morte: ela virá. Mas nos permite prever alguns acontecimentos: no mesmo lugar onde há muito amor, há também a lascívia, o interesse, a falsidade, o ter, o verbo que mais atrai e afeta o ser humano nesta vida, e até mesmo depois dela: não há no mundo quem se sinta feliz sem ter alguma coisam, nem que seja após a morte.

No entanto, acreditamos no amor a ponto de enganar a todos a nossa volta e simbolizarmos o amor verdadeiro em forma de uma aliança que se eternizará nos dedos daqueles que acreditamos viver o mesmo tipo de amor que vivemos. E a partir daí, até morrer faz sentido. Tomamos a morte como uma velha amiga no lugar de sermos tomados por ela. Fazemos com que sejamos lembrados e nunca esquecidos pelas batalhas que travamos a cada dia contra cada mal vivente nesta Terra que habitamos. Tornamo-nos mitos reais de uma história a ser contada com o passar de cada dia, cada ano, cada século. Seremos lembrados pelo que fizemos, por completo, na linha tênue do bem e do mal: todo sentimento excessivo é como amor em excesso, destrutivo. E todo o resto, são só os laços que nos afetam: que podem ter início numa leve tarde de brincadeiras sobre uma história que devesse talvez ser lamentada e termina em sinceras lágrimas em uma noite de festa, numa mesa.

E daí vem mais uma lição a ser aprendida: não sabemos nada do viver e da curta caminhada de volta para casa que é essa tal de vida.