Conhecimento é poder.

Conhecimento é poder.
Por que o ler faz bem ao que há dentro de nós.

quinta-feira, 2 de julho de 2015

Aceita um copo de cólera?


E aí pensei: Vivemos num mundo onde a água é a cólera, e insistimos em dizer que é amor. Nossa água está contaminada com o surto de cólera dos anos 80, mas ele veio com efeito retardado. Agora se manifesta.

Neste exato momento todos tentam se justificar pelas decisões aleatórias que tomam para se manifestar. A verdade é que, ao que parece, depois de 2013, com as manifestações de junho, o brasileiro aprendeu a se manifestar: tudo agora é motivo para manifestação. Só que parecem insistir em gostar de manifestar-se do modo errado. O interessante, o divertido é manifestar-se uns contra os outros, deixando de lado quem realmente precisa ouvir os gritos.

Os gays são vítimas dos cristãos que os açoitam com sua Bíblia Sagrada que prega o amor; os cristãos são vítimas dos gays que se crucificaram em uma Parada Gay, tamanha foi a blasfêmia que mesmo os protestantes, que não idolatram imagens e cujo o Cristo já não se encontra pendurado em uma cruz, ofenderam-se.

A sociedade brasileira grita "Ditadura!". Há uma? Não deveria haver um ditador para isso? Há algum ditador gay, hétero? Algum ditador protestante, católico, ateu? Tudo é muito confuso! Os valores estão trocados de Sociedade brasileira para 'Verdades Secretas' e esse monte de lixo que a TV mostra e convence meia dúzia (ou uma dúzia e meia) de meias verdades das quais não há quem pesquise e busque a plenitude de respostas, a consciência. O mundo fica no meio. As pessoas ficam no meio. Em tempos de crise, a única coisa que todos querem fazer é economizar: entre dar uma mão e apontar um dedo, mais fácil apontar: economiza energia física. Dar uma mão a quem está no chão cansa muito. Julgar, apontar, apedrejar dá muito menos trabalho. Se o tão esperado Cristo voltasse hoje, ele não duraria um minuto na Terra, e seria por conta dos próprios "santos homens" que estão aqui que ele morreria, senão pelas mãos deles. Os "santos homens" seriam a reencarnação dos fariseus de outrora.

A guerra está formada e ninguém quer ser vilão da própria história. Afinal, Deus está do lado de quem vence, sempre. Só tenho medo da reputação dos perdedores. Temo que voltemos à Idade das Trevas e as pessoas comecem a ser queimadas como bruxas por exporem suas ideias. O insulto é liberado. O repúdio vem de todos os lados e entre um e outro, vê-se com clareza a falta de conhecimento sobre o tema. E o álibi para a falta de conhecimento está no próprio conhecimento (ou na ausência dele); todos querem se justificar pela própria ignorância e enquanto isso, o insulto rola a solta.

As pessoas parecem carregar a si mesmas como um fardo pesado e quando falta o chão, quando há dor nas pernas, um quer jogar o peso no outro (como se o outro fosse uma mulera) e o culpa se não se sente devidamente bem apoiado.

E o que era para ser amor tornou-se em cólera, em doença. A pregação do amor virou ódio e todo mundo é santo. Cada um tem o dom de admirar-se pelas próprias palavras. O século XXI, com o avanço da tecnologia fez todos filósofos. A velocidade que se compartilha ideias online poderia ser trocada por compartilhamento de atitudes no mundo real.

Já ouviu-se falar do amor nos tempos de cólera. Agora, vivemos as vinhas da ira nos tempos de cólera. Amar ao próximo como se não houvesse amanhã, ficou perdido nas linhas segmentadas de Platão, no campo das ideias.

Todos os valores sociais se perderam. A ideia do Bem tornou-se cristianismo e a do Mal homossexualismo. E tudo isso aconteceu em uma velocidade tão grande que ambos não notaram o sufixo -ismo em ambas as palavras. O mesmo sufixo -ismo que caracteriza (dentre outras coisas) alguns nomes de doenças: reumatismo, raquitismo, alcoolismo e muitos outros -ismos; a ideia do sufixo -dade, que caracteriza estado, situação, quantidade: homossexualidade (o estado de ser homossexual), cristandade (o estado de ser um cristão real), entre outros -dades, perdeu-se quase que por completo.
Há esperança, claro! Tem que haver. Mas no momento, estamos bebendo cólera e dando o copo ao próximo dizendo que é amor.
A ideia de hipocrisia, de sociedade hipócrita já passou. Já avançamos da hipocrisia para o cólera disfarçado de boa vontade.

O que sobra disso?
Jean-Paul Sartre: "O homem está condenado a ser livre".